21.3.17

Dia Mundial da Poesia - 21 de Março de 2017 (Terça-feira)




Luís Filipe Castro Mendes


“Magnificat” de Álvaro de Campos





    Cada poema é um encontro, no processo em que é escrito tanto
como no processo em que é lido. Encontrei há muito tempo este poema e sei que
de repente ele me veio cortar a respiração e ferir-me com a terrível
consciência de que nunca poderemos sair do nosso próprio ser, nem pela vida nem
pela morte. Cárcere do ser, li mais tarde no mesmo Álvaro de Campos. Mas o soco
que o poema dá em nós (“e a dor dói como um soco”, Alexandre O’Neill) só o
sentimos bem nesses momentos em que da ideia se passa ao espanto quase físico
do encontro com uma verdade de nós que nós não sabíamos. O poeta é afinal
aquele que sabe dar-nos de surpresa um soco no mais fundo do que somos. Para
com isso aprendermos a ver melhor o esplendor do mundo.





Quando é que passará esta noite interna, o universo,


E eu, a minha alma, terei o meu dia?


Quando é que despertarei de estar acordado?


Não sei. O sol brilha alto,


Impossível de fitar.


As estrelas pestanejam frio,


Impossíveis de contar.


O coração pulsa alheio,


Impossível de escutar.


Quando é que passará este drama sem teatro,


Ou este teatro sem drama,


E recolherei a casa?


Onde? Como? Quando?


Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?


É esse! É esse!


Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;


E então será dia.


Sorri, dormindo, minha alma!




Sorri, minha alma, será dia!





Retirado de: http://observador.pt/especiais/21-poemas-dia-mundial-da-poesia/

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